14-15/52


 

Uma das coisas das quais eu mais fico tranquila em relação ao meu karma é que eu não minto ou engano, eu não trapaceio, eu não prejudico ninguém. E já fizeram muito isso comigo. Na verdade, ainda fazem, mas eu continuo do jeito que sou, não faço com outrem e finjo que não estão fazendo comigo na esperança de que de tanto guardar coisa ruim, meu coração exploda ou meu cérebro pare com um aneurisma. Também evito ser perversa e cruel. Eu tenho pensamentos perversos e cruéis o tempo todo, tenho ímpetos violentos, pensamentos intrusivos, mas eu luto contra tudo isso o tempo todo. Quando eu penso em falar perversidades, eu respiro e paro. Quando sinto vontade de arrancar os olhos de alguém da órbita, eu respiro e lembro do meu réu primário. Eu já fiquei sete meses sem o movimento do dedo indicador da mão esquerda justamente porque respirei e pensei, mas a raiva não passou, daí preferi fazer comigo. Essa sou eu. 

Uma das pessoas da minha pequena caótica família acha que finjo ser uma lady inglesa nas redes sociais e que estou emulando um sotaque que nunca tive. E óbvio que fiquei profundamente magoada, porque eu não faço esse tipo de coisa. Eu não devia me magoar, mas eu sou uma idiota sentimental. Quando eu morei em outros lugares e, consequentemente, minha prosódia mudou, eu nem percebi, não é algo que se perceba, simplesmente acontece, E não, não estou fingindo nada. Estou faz quase dois anos trancada dentro de casa, quase sofrendo de 'síndrome da cabana', convivendo com o mínimo de pessoas possível, na editora estou cercada de paulistas, em casa por pessoas que também têm sotaques misturados, acaba que só nós falamos do jeito que falamos, porque é uma mistura de outras vivências mais ouvir música em outras línguas mais assistir filmes e séries em outras línguas. A pessoa sofre preconceito linguístico até de quem não deveria de jeito nenhum. Quanto à coisa da 'lady inglesa, quem me dera'. 

O Instaram é uma grande farsa pra muitas pessoas. Selfies editadas, vidas fakes, contas fakes e pessoas como eu, que posto recortes de vida. Eu opto por mostrar recortes que eu gosto, nenhum interesse em mostrar a parede de casa caída. E não tenho culpa se a maioria das pessoas até acha minhas fotos bonitinhas. Já me chamaram de presunçosa uma vez que falei que minhas fotos eram poéticas. Na verdade, eu tentava/tento que sejam, o que chamam no Pinterest de aesthetic. E eu até que me orgulhava disso, que deve ser um tipo de crime social se orgulhar de uma coisinha besta que se faz. Até a pessoa vir e me dizer isso, que, obviamente, me magoou muito, porque eu não esperava. Continuo teimando no estilo das fotos, mas não acreditando mais que nada que eu faço presta. 

Eu só queria que as pessoas entendessem que não precisam me colocar pra baixo, eu sozinha já me ocupo disso o tempo todo, eu me sinto um desperdício de oxigênio. Só nos livros que leio, nos poemas que decoro e nas músicas que ouço é que encontro consolo.

Nas fotos, mais um abril de luto por vozes que expressavam o que eu sentia, andanças por Fortaleza, um piso bonito com um background da encrenca sinistra e muita muita tristeza, porque a poesia que presta é sobre tristeza. Para quem se incomodar, a parca poesia que eu tento identificar e registrar com o que escrevo, pinto e fotografo eu faço pra mim, sem intenção de nada além de tentar não me sentir mal o tempo todo. Não funciona, mas eu tento.










"Sweet thing, I watch you 

Burn so fast, it scares me"

Slowdive

Comentários